Pippo Bunorrotri – um parêntesis

La Promenade – Marc Chagall

Há tempos imemoriais, quando trabalhava ainda para a Patrulha do Tempo, conheci a Mariel, O Fernandes, emissário del-Rey em nossas províncias do sul (https://marielfernandes.com).

E, frequentando este soldado da aventura, vim a dar com a caudalosa escrita de Pippo Bunorrotri.

Evidente que o lendo em espanhol, não pude resistir à tentação de cometer uma tradução de um de seus poemas (se já fiz maldades com Ezra Pound, porque não com Pippo?).

Evidente também que cometi liberdades. Certas construções do espanhol não caem bem no português e vice-versa (Por exemplo, “muchachas” é forte e denso em espanhol, ao contrário de “mocinhas”, em português).

De modos que ousei trocar um “mortales”, que daria “mortais”, por “os que morrem”, pelo amor da eufonia em nossa língua.

Então, vamos dizer assim, forcei a métrica, acrescentei ou tirei, espero que respeitosamente.

Por outra, procurei, na medida do possível, manter os jogos fônicos do original, donde não sei até onde fui bem sucedido. Enfim!

Evidente que Pippo, mais adiante, possa talvez não gostar do resultado.

Não obstante, no agora momentoso, o gentil Pippo, mais que gentilmente, suportou a ousadia e me sugeriu que a publicasse neste espaço, o que faço, deixando o sagrado link para seu original. Espero que gostem, de Pippo, claro. Evoé!

O poema original: https://pippobunorrotri.com/noche-de-palida-luna/

NOITE DE LUA PÁLIDA

Pippo Bunorrotri

Nesta noite de lua pálida sonhei de um sonho esquecido…

um que eu já fantasiara
com aquele primeiro beijo nas arcadas da Plaza Mayor

roubado a tua sombra inquieta
perturbada por minha sombra demente

onde em um arroubo de atrevimento nos teus lábios coloquei os meus

o que depois aconteceu só sabemos eu e você
o que na memória do tempo ficou
e que lembranças trazem

nas noites de lua pálida
Lá, onde perde sua sombra, a memória
lá, na misteriosa floresta do esquecimento
onde habitam sombras
e não nos chega o voo das gaivotas

Nesta noite de lua pálida
sonhei que nos encontrávamos para admirar nossas faces
gastas pelo tempo
e desfrutar
de nosso amor decrépito.

Se passaram muitos anos desde que naqueles dias
em que escrevemos nossa história
desde que naquelas noites
amarguras e alegrias nos deixaram
o destino meu e o teu

vagou por entre sombras agitadas
em vão tentando lembrar daquele primeiro beijo
que nos deu tanto

Sobre nossos lábios uma legião de beijos
teu campo quiseram conquistar, com festa e aconchego
mas só derrota conseguiram


e na torrente do esquecimento
depois de coroados, flutuam seus cadáveres

na fugaz ternura dos que morrem



Na narcose da lua pálida
balbuciamos uns quantos nomes

o desejo de outrora surgiu frio e acabado
ainda a paixão
o frenesi moribundo
o olhar sem brilho
os lábios sem cor

lívido o rosto…e mesmo assim abatidos
nos acercamos um do outro
como duas sombras atordoadas

e pelo que erramos só nos atrevemos a pedir perdão
de mais uma vez nos vermos
com aquela certeza de tudo, do amor, do tempo
e nós mesmos
Teremos mudado por todo o sempre

Existe o amor…Amor!
ainda que sigamos sendo
donos de nossas vidas

donos de recordações de amores passados, que floresceram na primavera e no outono
bom é não acumular
recordações de amores passados
que em uma primavera floresceram
e no outono

suas pétalas voaram ao vento
foge deste perfume
para que em teu peregrinar pela vida

tu sigas, atenta, cheirando
o aroma de outras flores
pois que mais cedo ou mais tarde
te afogarás no amargo pó
da morte

5 comentários em “Pippo Bunorrotri – um parêntesis”

  1. Que delícia tudo! Mariel é aquela magia que te leva pelo caminho… seja de bicicleta ou de voos…

    Curtir

Os comentários estão encerrados.