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Uma calça colante e uma camiseta cheia de brilhos. Muita e mal aplicada maquiagem também e ela sentou-se na cadeira, enquanto ele continuava a consultar um caderno de apontamentos. Ela esperou, observando o entra e sai contínuo de pessoas que deixavam envelopes ou capangas na mesa. Um ou outro o consultava por vezes em voz sempre baixa.
Finalmente ele voltou os olhos para ela, pensativo, mexendo casualmente numas trouxinhas plásticas de maconha que enchiam sua mesa.
“Bem, creio ser tempo de vos perguntar o que quereis aqui, boa senhora?”. E, com ênfase, “Senhora?”.
“Perolayne Jhenifer, bondoso Jáquerson Romão”. Ansiosa, torcia os cabelos pintados de amarelo-gema-de-ovo.
“Chamai Pereba, como todos, senhora Perolayne”, e aguardou.
“Bem, não fosse por questão premente, delicada mesmo, não vos perturbaria em vosso local de trabalho, atento Pereba”, e sorriu fracamente, “mas necessito dos serviços que somente vós podeis me obsequiar a contento. Vede, preciso encontrar a Juvenilson, outrora esposo meu”.
“Mas… surpreendo-me assazmente, permiti que vos diga”. A face retorceu, algo dolorosa.
“Vede, não privo com Juvenilson há meses e sinceramente desconheço seu paradeiro”.
“Bem o sei, valoroso Pereba, mas Juvenilson já labutou sob vossas ordens, aqui, em vossa operosa biqueira, donde sabem todos que são comerciados aos melhores entorpecentes”.
“Fato”, ponderou risonho, Pereba, iniciando um périplo meditativo pela sala. “Juvenilson, a quem muito estimo, aqui trabalhou na venda de entorpecentes diversos, bem como, por dá cá aquela palha, na nobre função de matador oficial”.
“Mas, permiti-me um pequeno reproche, senhora Perolayne, recordo que vós não tínheis em grande conta as altas funções que aqui desempenhava Juvenilson”. E severo, postou-se a frente da mulher, mãos às costas.
“Verdade e penitencio-me por tal juízo apressado de minha parte. Ocorre que anelava por mais alta profissão para meu consorte, talvez no ramo do roubo de automóveis ou até quem sabe se estabelecendo como autônomo no ramo do assassinato profissional”. Torceu as mãos, chorosa, “peço-lhe que releve, são anelos de mulher, de esposa que apenas quer o melhor para seu eleito”.
“Naturalmente, naturalmente, esqueçamos coisas pretéritas e nos concentremos no que agora requestais. Dizei-me, se desaparecido está Juvenilson, não seria mais sábio pedir socorro à polícia”, e disse “polícia” como um satanista diria “Jesus”.
“Certamente que a ideia me ocorreu, expedito Pereba. Entretanto, bem sabeis que Juvenilson não era, não é e nunca será amado pelos severos policiais. Temi que em requestando que o achassem, poderia estar contribuindo para comprometer a integridade física do homem amado”.
Entrou um jovem magérrimo na sala e, mudo, aguardou a atenção de Pereba.
“Dize o que quereis, Aguinaldo ”. Tranquilamente, voltou a sentar-se Pereba.
“Agradeço-vos a atenção, arguto chefe meu”. Aproximou-se da mesa onde Pereba, imperial, o observava atentamente.
“Bem sabeis”, disse Aguinaldo, “que na qualidade de ‘recolhe’ de vossa operosa biqueira, é minha função trazer-vos o apurado em todos os nossos pontos de comércio”.
“Pois bem, aproximava-me do ponto de vendas de entorpecentes situado na Viela do Careca, no Jardim Trancoso, quando notei desusado movimento, em tudo destoante do normal”.
“Dize com brevidade o que vistes!”, cortou Pereba.
“Ouço e obedeço. Ora, estava o local tomado por policiais militares em azáfama. Em apertada síntese: nosso ‘vapor’ Dêivide e seus dois ‘olheiros’ foram presos, sendo-lhes tomado a maconha, lança-perfume e cocainóides diversos que ali comerciavam”. Arfou, expectante, Aguinaldo e aguardou.
Pereba levou uma mão ao queixo e meditou por minutos.
“Bem, são os azares de nosso comércio. Ademais, Dêivide era funcionário novel e algo descuidado. Fazei como vos digo: aciona a Marreta para que cuide de contabilizar nossas perdas, bem como para que faça comunicação imediata a nossos superiores”.
“Acionaremos causídico para que patrocine a Dêivide e seus rapazes?”, Aguinaldo trocou de pernas.
“Não, o concurso de advogado não acudiria a ninguém em tal situação. E, sinceramente, não é o caso de eventual suborno, pois que pequenas as perdas. Entretanto, ad cautelam, ordena a Moura que acompanhe o caso através de seus contatos no meio policial”. Aguinaldo saindo, voltou-se, não de todo agastado, sorrindo até, para a mulher.
“Vosso perdão, pela interrupção, mas os negócios…”, e ergueu os ombros. “Voltemos a Juvenilson, senhora Perolayne.
“Não vos desculpeis, extremoso Pereba. Sei de vossas altas responsabilidades”.
“Vos agradeço. Agora, Juvenilson…peço que pondereis…”, tomou de uma bagana de maconha e a acendeu, mirando o teto de zinco. “Posso apenas prometer que colocarei meus melhores e mais vivazes em seu encalço. Dê-me uma semana, até lá terei, de uma forma ou outra, atendido a vossa demanda”. Cavalheiresco, ofereceu a bagana à mulher.
“Não, obrigado, não me apetecem os canabinóides, cortez Pereba”. E tomando-lhe uma mão e a levando ao seio, “e tudo o que fizerdes, sei que o farás com denodo e lisura”. E sorriu. Também Pereba sorriu, a mão ainda envolvida na maciez do seio.
Foi-se Perolayne.
Pereba tomou de um vistoso celular.
“Alveston? Pereba. Vinde a meu tugúrio, tenho uma missão para ti”.
Tragando sua bagana, plácido, Jáquerson, o Pereba ponderou sobre quais seriam os motivos de Perolayne para encontrar o desaparecido Juvenilson.
“Formosos seios…”, divagou sonolento.
“para não falar dos glúteos”.
E manteve latejante ereção por todo o resto da tarde.