LEITOR PROFISSIONAL

CHERUBS ON AISLE 7 - by Brian Wallace
CHERUBS ON AISLE 7 – by Brian Wallace

What thoughts I have of you tonight, Walt Whitman, for I walked down the sidestreets under the trees with a headache self-conscious looking at the full moon… 

Allen Ginsberg – A supermarket in California

Leitor Profissional.

Não, não, nada assim tão final, tão eloqüente, pensei antes no sentido etimológico. Ler como profissão…de fé. Talvez. Mas Leitor Profissional, não obstante. O encanecido buscador, o desbravador de estantes, o freguês de sebos. O cretino de óculos.

O problema é que envelheço, os dentes amolecem e minha paciência diminui, míngua e por fim. Por fim.

O Leitor Profissional. Eu.

Já não leio resenhas, nem orelhas, desconfio delas, traidoras ou pior, nadadoras de superfície, navegadoras de cabotagem: generalistas, fúteis, práticas.

E livrarias também, delas e nelas compartilho em desavim, alimento para urticárias do espírito.

Livrarias. Prenhes de nada. Dezenas de metros quadrados de autores anglo-saxãos. James, John, Ivy. Adolescentes apaixonadas por vampiros, por anjos ou por magos. Crepúsculos. Ou livros cheios de seriedade, de autores anglófonos, monoglotas, com bibliografias em língua inglesa que é a única que existe, senão por que Deus escreveria a Bíblia nesta língua?

Adoráveis solipsistas. Mas até aí os romanos, os gregos, os chineses, os novaiorquinos sempre deploraram do patois dos bárbaros. Que somos nós, ainda que Profissionais.

O Leitor Profissional. O empregadinho de armarinho desconfiado de tudo e de todos, nunca satisfeito. Desconfiado de Chefs ingleses ensinadores de culinária francesa, caribenha, etíope. Desconfiado de filósofos que transcrevem a algaravia dos tempos em linguagem modernosa em revistas efêmeras, em nichos de jornais walkingdeadianos. Os autores do momento com selo de qualidade provando que são jovens ou se não pelo menos novos, indispensáveis.

Impenetráveis, profundos escrevinhadores. Melífluos e sérios, doutrinando, desfrutando de intimidade não outorgada com os que os lêem.

O Leitor Profissional, desconfiando dos que escrevem. Ainda que gostando ainda de Glauco Mattoso. Ainda que gostando de Cego Aderaldo.

O Profissional.

Conto agora um segredo: não há mais escrita por não haver mais o que escrever. O Século não se nos esconde. Pior, não há Século para ser mapeado e a palavra se não morre, está fraca, tísica como Marguerite Gautier e tão puta quanto.

Então escrevo, agora, a tecla premindo meus dedos.

Um profissional.